29.7.07



(lápis sobre papel vegetal, anos noventa)

estudos invertidos.
imagens negras, solares.

27.7.07


detalhe sobre fotografia de álvaro rosendo
(c) álvaro rosendo


o beijo

25.7.07


a bela lisboa
pelas vozes da Lisboa Records

(um cd a ouvir)

24.7.07


(tinta-da-china sobre cartolina, sem data)

em decomposição, a tarde

palavra a palavra
em decomposição
o tempo, o corpo, a voz.


em volta, as paredes alvas de cal, o tecto elevado pintado de cores suaves

a cabeceira da cama em cerejeira, o brilho debotado do verniz de boneca

os travesseiros que amparam a linha de nuca

os dedos emaranhados nas borlas de lã

os planos de linho lavado onde esmorecem calafrios

uma face que se afunda no antebraço cavo de um beijo


a quietude perfuma o silêncio, os livros de bolso de papel escurecido.

22.7.07


(tinta-da-china sobre papel, anos oitenta)

retratos enviados por correio azul

19.7.07


descrevo fissuras de natureza inquieta
com um olhar de grafite
a curva que diverge dos rumores complacentes e que enegrece
a face das palavras

e estendo-me imóvel na margem seca de argila
na borda-de-água vertebral e granítica
imaginando-te estendido no calhau rolado da calçada
na sombra íngreme dos corvos
na luz parda dos arenitos

(e quero ver-te riscar cidades como desfiladeiros metálicos
naves absurdas cerzidas por palavras desenhadas)

no infinito.


(c) pedro morais

16.7.07

não posso mostrar-te a curva negra em torno dos meus olhos
nem sequer as rugas dos meus lábios secos.
a saudade não existe para uma dor tão grande
e a solidão torna-se grave como a ventania que se abateu no mar.




(caneta, tinta-da-china e aguarela sobre papel, julho 2007)

falso retrato com anton pávlovitch tchékhov (2)

13.7.07

para M.

sentei-te no meu colo onde te aninhaste, outra vez pequenina.

sombras na arcaria em contraponto dão-nos cascatas de harmonias
caídas como a luz perdida dos petardos de ano novo e nós escutamos

caules ávidos
os olhos translúcidos como taças
corolas de fragor antigo nas paredes, flores de talha
voluptuosas e sombrias sobre o vidrado da geometria moçárabe
assinalando altares, o verso da porta de pedra imaculada
indicando o poente

e eu abracei-te no meu colo, outra vez pequenina
e foi lá que nos embalei por tonalidades misteriosas
cantos masculinos sobre um perdido deus menino
como quem se embala num navio assolado por vagas obscuras

e imensas

as tuas mãos mergulhadas nas minhas,
feitas ouro, incenso e mirra
em dia de música, em dia de reis
onde a esperança é o lugar deste abraço tão apertado
a nossa pequena e luminosa história.

hoje não tocaram alaúde, violeta ou sanfona
a pedra era pedra sob a cerâmica
ou sob o oiro vegetal da talha
e o arcabouço da velha sé albergou vozes como cordas
olhares como caixas de som
ecos doutros tempos adormecidos.


(esferográfica sobre papel, sem data)

11.7.07

(ensurdeço ao ouvir-te)

na cidade cáustica e indiferente volumes claros de cota alta
escondem o denso montado que reveste as encostas da serra
crescem impunes
braços informes do velho burgo
amputando o horizonte


(e com o meu olhar procuro)

as acácias, as figueiras
entrecortando as linhas de cumieira de telha argamassada
e assinalando os pátios onde vides ensobram poiais de ladrilho
as açoteias assentes sobre abóbadas de pedra caliça
as laranjeiras adossadas às paredes das cisternas
os muros de adobo onde se apoiam buganvílias floridas
as argamassas que se decompõem no sopro das ausências

(emudeço. o olhar cerceado pelas palavras que não proferes)

nesse reflexo inquieto, seco
corre célere o sangue, arfante a pele
a face caiada

e enrubesço.

10.7.07





(faro, julho 2007)

o burgo





(ilha deserta, algarve, julho 2007)

flores selvagens



(ilha deserta, algarve, julho 2007)

areia

6.7.07



(caneta sobre papel, julho 2007)

falso retrato com anton pávlovitch tchékhov

Arquivo do blogue

 
Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-Noncommercial-No Derivative Works 2.5 Portugal License.