21.1.06


(maria augusta, 1924)

depois da viagem de Santos para a aldeia,
passou pelo colégio Alexandre Herculano, em Coimbra,
onde a retrataram assim.

na casa caiada junto ao terreiro,
tocava piano e as irmãs dançavam.
também lá estavam as grandes amigas,
os irmãos a discutir as caçadas,
os pais
e os pretendentes.

bela, bela, tinha uma risada inesquecível,
gostava de literatura francesa,
das modinhas brasileiras
e dos cantores americanos que a grafonola tocava.
e pintava.

não sei se cantava, mas imagino que sim.

19.1.06

escrever ao invés de desenhar.

precisas como a luz matinal,
as palavras devem-nos parte da alma dos registos,
revelando ou ocultando intenções,
construindo a linguagem como acto reflexo de um pensamento.


presto cada vez mais atenção à linguagem e à articulação que estabelece com os conteúdos.


a linguagem é um terrível e cruel indicador dos meus interlocutores.
ainda bem que não o único.

18.1.06


a espera
(tinta permanente sobre papel fabriano, abril 2002)



A ESPERA

O campo, escuro; longe, no mar,
as luzes. E um pássaro nocturno.

Sentado está meu pai,
um olor de laranjeira entre seus dedos
e o rosto prateado. Espera.
E num longo passeio,
de oração e vigilância do jasmim,
minha mãe está à espera.

Baforadas de tempo erguem-se à varanda, de onde olho
na solidão, suas sombras. Nesta casa
todos esperamos quem nos nega.

Francisco Brines (1932)
Ensaio de Uma Despedida

16.1.06

não existem momentos certos para retomar um qualquer momento
que se abandonou no curso de outros

e, a verdade, é que nada será então como era,

e ainda bem (não me apetecem nostalgias)


my blue moleskin

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