26.2.09

não te mexas
desenho o sulco da carótida
a curva das pálpebras
abstraio-me no fluxo do plasma
reverberam tímpanos transcorro ventos
atravessam-me areias como setas
sou o caos logo depois o botaréu
como ser para lá da linguagem que me conforma
sobram papéis ausências como andaimes
sintomas do livre exercício
um ermo lugar esse que me destino

não te mexas.

no tablado
a mediação do ecrã em silêncio
canções poemas romances de cordel
o cinematógrafo a alvenaria das paredes da casa
a tela de dramaturgias escolares
o desabrigo.

18.2.09

galgar o céu de vinil até ao outro lado da estação
como se numa noite de inverno
pudesse transpor detritos bilhetes taras perdidas
as folhas dos jornais do arvoredo do Parque
as paredes carcomidas por cartazes e grafitos
agarrar-me ao cabo do guarda-chuva equilibrar-me no balanço das varetas
seguir pelo centro do asfalto o risco a corda bamba
e segurar-me às abas do sobretudo que as tuas mãos teimam em desapertar
como uma vela uma modalidade radical
o corpo engolfado a camisa desabotoada o gancho que se solta do cabelo
o chapéu os gomos da saia o cachecol
as pálpebras que enegreço
os dias antes do equinócio.

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