20.10.09


chego tarde evito a quarentena dos aflitos

arrumo o quarto a secretária os elos os sobressaltos a crónica da anemia

aliso a cervical de esguelha observo quem se aproxima

no mouth no neck no rest

observo raparigas que lêem

hoje uma caiu nos braços de um rapaz tranquilo amparámo-la até chegar o INEM

a gabardine do revisor protegeu-a quando chovia

ao atravessar o cais para a praça de táxis

revejo a imagem de um outro rapaz que lia Virginia Woolf apoiado

no estofo azul dos bancos da locomotiva

tem agora os pés salgados pela água do estuário

levado por um rio de prata por peixes estranhos

por tantas melodias e eu

desenho estruturas metálicas pontes passadiços plataformas

desenho raparigas que lêem nos transportes públicos desmaio

ultrapasso os condicionalismos da minha mobilidade

não tenho carta nem rota

a linha imaginária entre dois estratos em silêncio.

9 comentários:

CCF disse...

Que bela a tua inquietude.
~CC~

Menina Limão disse...

confirma-se, este também é para mim. vou guardá-lo.

carlosré disse...

adoro

carlos veríssimo disse...

Se numa noite de inverno um leitor/viajante.

afonso rocha disse...

Um amigo enviou-me o endereço do teu blog. Adorei. Deste-me força com a tua poesia neste dia cinzentão da minha vida. Vou fazer qualqer coisa...que outros chamam de arte. Para te agradecer a inspiração e ajuda...logo te envio algo...feito hoje...
Obrigado!
afonsorochaescultura.blogspot.com

ci disse...

quando a leitura se transforma em imagens...

Laura Ferreira disse...

Gosto imenso das palavras.
Das imagens também.

Natália Nunes disse...

"no mouth no neck no rest"

: so sad.

O Ramalhete disse...

apetece-me embarcar.

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