hoje chove.
ergue-se alto o castanheiro que ensombra o velho palheiro
tem a idade do rapaz que nele se abriga
indiferente ao chamado cansado de quem o procura
nessa tarde abafada
não ouve as risadas das raparigas que, no desvão da escadaria de pedra branca
aprendem bordados e tecem fados
nem escuta a campaínha da bicicleta vermelha
que tomou o lugar do som dos rolamentos do carrinho de madeira
construído pelo velho marceneiro
e está longe de se aperceber que o pato, o perdigueiro e o gato
se enroscam no borralho
pelo rêgo de água descem barcos de papel
descem vagas ruidosas que movem as pás dos moínhos de cortiça
vagas frescas onde bóiam folhas como jangadas
enquanto as mãos da criança tranquila enfeitam de heras floridas
as madeixas desbotadas de uma boneca de pano
antes da desfolhada
antes dos sinos e das trindades
dos caules arroxeados dos lírios venenosos
das bagas vermelhas do azevinho que não floresce em dezembro
antes da tempestade.
hoje chove.
e nenhuma voz descobre o silêncio que trago em mim.
25.9.06
Posted by blue at 11:21 da tarde
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10 comentários:
"hoje chove.
ergue-se alto o castanheiro que ensombra o velho palheiro
tem a idade do rapaz que nele se abriga
indiferente ao chamado cansado de quem o procura
nessa tarde abafada"
Excelente! Isto é prosa, não?
essa tua resistência à ideia da poesia...
Gosto destas memórias do futuro, do presente e do passado onde se misturam mais várias gerações.
...onde se misturam várias gerações.
O "mais" estava a mais!
Hoje ao jantar falamos de blog's e dos circuitos dos blog's e falamos do teu!
esta semana foi terrível, não tive hora de almoço e, å noite, estava tão cansada que descurei por completo este espaço e os que normalmente visito... desculpem todos esta ausência!
é, redhot, adivinhaste.
são vários tempos, diversas memórias acumuladas, que juntei para expressar um presente específico. não é nostalgia, embora possa parecer (espero que não pareça!)
magnífico o teu blogger disply name - como sempre.
hoje é domingo e chove. O som das pingas contra as vidraças traz as memórias de outros domingos de Outono, o cheiro da marmelada a secar à janela e das maçãs perfumadas espalhadas nos móveis da sala. Só apetece ficar enroscada no sofá e deixar que a preguiça tome conta de mim.
Beijos.
um poema muito visual e belo! gosto muito.
sou visitante frequente do teu blog.
bjs
marisa
querida marisa, é mesmo bom saber-te por aqui!
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