18.5.08


© maria paes

pelo carreiro fora a mulher entrança ramagens de vinca florida

que uma criança coloca no colo sobre os cabelos

levam o almoço aos jornaleiros que andam à batata

passam sob oliveiras e azinheiras em flor por campos de favas

a mão da mulher aponta as violetas as ervilhas-de-cheiro

os bichos-da-conta tufos de pão-e-queijo por entre as pedras dos muros

prímulas perfumadas que colhem na volta da tarde

primaveras.


ao revê-las assim não me pesam tanto as sombras

aquelas que estão no fundo do colo junto ao esterno

as que são a razão para a flecha do diafragma sobre o ventre

as que me arqueiam a coluna e deformam as palavras.

4 comentários:

CCF disse...

Pelo carreiro fora...é como se estivesse lá também.
~CC~

Luis Eme disse...

palavras poéticas de um país que já não existe...

Anónimo disse...

cada tempo tem as suas doenças que nos tiram a respiração, o bater do coração e nos arqueiam a coluna

Nuno Dempster disse...

Dos poemas que li do cimo até aqui, talvez escolhesse este. Li-o já umas quatro vezes hoje, que foi quando encontrei o blue molleskin, mas o mesmo sucedeu ao poema de 16.6, e ao de 10.10 (tão cheio de humanidade - humanidade no sentido de algo que pertence ao ser humano). O de 15.5 tem a simplicidade deste que o comentário situa, e o conhecimento da flora torna os cenários mais apelativos na paisagem dos poemas. Claro que voltarei. A poesia boa alegra-me e dizer que gostei - que é quando digo algo - foi coisa que nunca me bastou.

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