25.11.07





às seis e quarenta e cinco não está frio no quintal
e eu não encontro os galhos da poda do jasmim
para acender o fogão
às seis e quarenta e cinco é ainda muito cedo
digo para a casa adormecida
falo sózinha às seis e quarenta e cinco
é demasiado cedo confirma o relógio da igreja
reluz a estrela d’alva sobre o vulto negro do pinhal

sentada nas escadas do passadiço organizo o dia que se inicia
dia azul azul azul e não sei dos galhos para acender o fogão
às seis e quarenta e cinco ainda não há pão
não há brumas nem aragem nem geada
não se ouve a passarada
eu tropeço no silêncio
enumero tarefas contadas nos dedos das mãos

a casa quente
o açúcar em ponto de pérola e as gemas para o pudim do abade
as maçãs reineta cobertas de massa de areia
o chocolate negro negro
para a mousse e o fondant
o vinho quente com especiarias e gomos de laranja
o doce de leite
a porcelana de flor de pessegueiro
e eu sem galhos para acender o fogão

pela tarde vestir-me-ei de negro serei minhota
enfiarei contas de oiro de viana
pendentes de oiro puro, arrecadas
flores na casa quente para honrar os que virão

é cedo, muito cedo
para os ausentes, reservarei sempre
um lugar no coração.

19 comentários:

velha gaiteira disse...

a supremacia
da beleza,
da poesia,

da alma viva!

Mar Arável disse...

UM TEXTO DE PAZ E AMOR

BELO

Anónimo disse...

Que honrados ficámos, num lugar do coração.
Bjs

Gi disse...

cada minuto dessas horas
tem cheiro , tem sabor
tem cuidados, perfumados , tem ternura , tem amor. tambémpintas com as palavras Blue. Um beijo

Anónimo disse...

fotografias belas e texto belíssimo.
bj

Scarlata disse...

é Lindissimo Blue, lindissimo!

;)

saudosista do futuro disse...

será sempre cedo
num relógio de
tempo próprio.


ou demasiado tade.

___________
________________

Joana Roque Lino disse...

gostaria de o ler às seis e quarenta e cinco da manhã... :). beijo

Natália Nunes disse...

Não, a ausência não me faz companhia, só a solidão.

Lindo texto, Claudia.
:)


Beijo.

Anónimo disse...

muito bonito
armanda

Isabel Victor disse...

"a casa quente
o açúcar em ponto de pérola (...)"


a destilar beleza. prazer ...

vou ficar.aqui.contigo

iv*

Isabel Victor disse...

Levei.te comigo ...

Laura Ferreira disse...

que beleza de texto. quase se sente o perfume e o quente.

Cometa 2000 disse...

cheio de imagens familiares e íntimas.
quase se vê, quase se sente.




muito bonitos os últimos versos...

SMA disse...

Ao doce e ao quente... a colmatar o vazio do nada, do ausente...

Parar e o rever-se...

bjo doce

hora tardia disse...

chocolate. negro. profundo.



doce. até ao impossível.



bjj.

Isabel Victor disse...

Blue. Querida blue.

Eu é que agradeço ...

(isto é de uma beleza que me prendeu ... )


A re.leitura é sempre uma ousadia ... uma intromissão ...

espero que goste :))

um beijo *

(adoro o aroma do jasmim a arder)

Luis Eme disse...

é cedo... mas eu só cheguei agora...

mesmo assim há um lugar bo coração...

Bandida disse...

para lá do mundo. para lá do medo.


beijo B.


B.

Arquivo do blogue

 
Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-Noncommercial-No Derivative Works 2.5 Portugal License.