© cj
quatro contas de somar
quatro contas de dividir
quatro contas de multiplicar
quatro contas de sumir
enumera a rapariguinha enquanto sobe os degraus de passo lento
na escadaria pombalina do velho hospital
uma cópia, uma redacção, palavras difíceis,
significados, ler para um ditado
mais uns degraus e ficam para trás os rostos dos beneméritos
que a observam recortados nas telas escuras
óleo de linhaça
óleo de fígado de bacalhau tapioca com canela sopas de vinho
retratos de homens pálidos e bem enfarpelados
entre os quais duas mulheres gordas e feias ganharam generoso lugar
seriam muito boas muito ricas
a geografia das terras de além-mar
as linhas do caminho-de-ferro, as serras mansas
mais uns degraus de testa arredondada onde arrasta a cauda do vestido
imaginado à medida do peso da mala onde guarda cadernos de papel
uma caneta parker preta e verde, o mata-borrão
seria de veludo negro e apagaria o que para trás ficava
mais uns degraus e entra no corredor de éter
onde mulheres de sapatilhas brancas transportam bandejas
as linhas de água, os rios, as províncias
as capitais de distrito
no jardim do convento que ao fundo do corredor
se observa da sacada encerrada
irmãs de são francisco parecem flutuar entre o buxo bem talhado
as roseiras, as begónias, as azáleas, as pequenas japoneiras
a mão corre a face da longa parede
conta as portas dos quartos particulares
opacas e silenciosas
desenha a casa a árvore as flores do sol as muralhas do castelo
a penha o pelourinho a caravela
abre-se a porta e o quarto tem duas camas e um berço vazio
uma das camas é articulada e na parede do fundo há uma outra sacada
é outono e os carvalhos, os castanheiros alumiam as vidraças.
24.10.07
Posted by blue at 10:06 da tarde
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9 comentários:
ARITMÉTICA PERFEITA.
ASSIM TRANSFORMADORA.
ASSIM ILUMINADA.
__________________
doce a sombra que desenhas.
bom dia bLUE.
religare...
"Os antigos tinham raz�o em pintar anjos nos tectos dos quartos. Parte da vida passa-se a olhar para eles" (Miguel Torga. Di�rio IV)
Tu é que alumias as vidraças.
é outono sim.
e vim.
aqui em repouso. sossegado.
"berço" de luz. serena.
beijo.
Ando sentindo uma doce melancolia ao ler seus textos... fico hiper-sensibilizada.
Beijos, Claudia.
Olhar como se nunca tivessemos saído dos olhos...
Um beijo
:)
É a lenha
comida pelo lume
a alumiar os nossos olhos
nas paredes
belo momeno de uma estória...
as minhas visitas a um dos cantos do teu mundo continuam , já é impensável não o fazer.
beijos
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