14.2.07

terras rubras, húmidas sombras inquietas
o vento que toma por amante a copa mansa do pinhal
e o inverno que se perfuma de primavera


no quintal entorpecido
desabrocham camélias, magnólias
enquanto que, na serra, se iluminam ramos de acácias
indiferentes à cacimba que humedece o meu rosto distraído
para lá das portadas de madeira, dos muros de granito
que o abraçam, dos limoeiros
para lá dos vidros soprados que compõem caixilhos apodrecidos
das chamas que a pedra de lioz enquadra
de cera pálida, suave e cálida
alumiando numa preguiça infinda o fim de uma tarde de domingo

inquieto o inverno que se perfuma de primavera
desafiando os rebentos atrasados da ameixieira moribunda
irrequietas as vozes das crianças compondo herbários
ao som de palmas, de segredos e gargalhadas
inquieto o rapaz esguio que semeia palavras nos desenhos
traçados finos, aguarelas, diários gráficos
cordas metálicas e amplificadas na caixa aberta
do seu coração

e os livros com que fizeste essa outra caixa onde te resguardas
e os livros onde respiro fundo o seio da minha infância
onde se afogaram fantasmas e mágoas

onde sonharam terras rubras,
mágicas
os lugares, os amores
a nossa vida

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