13.2.07

ficaste nessa praça por entre pedras altivas
e rebocos de cor acutilante
e a tua voz perfurou a temperatura seca
da tarde que nos rodeava.
ao teu lado, o tempo é ácido,
é cristalino
e as sombras pululam sob cada palavra,
expostas,
fazendo dessas conversas
um beco frondoso de fantasmagóricos desejos,
pelo tempo esquecidos,
pela idade abandonados.

surprendeu-me o vigor dos teus lábios
ao ditarem cada palavra:
a crueza sobranceira do teu olhar
em nada transparecia a dor que seguramente tomaste
ao sabor dos dias e dos medos
por toda a tua vida.

mas perdeste, porém,
a capacidade de te abandonares do alto dessa barricada.

e eu,
de corpo entranhado nos granitos e azulejos das fachadas,
a pele absorta pela luz mergulhada no rio,
capturada por todos os movimentos da calçada,
soube distintamente o que hoje de ti me afasta:

só sei reconhecer-me sempre que me perco
por uma qualquer paixão.

2 comentários:

Laura Ferreira disse...

lindo!!!

Anónimo disse...

lindíssimo!

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