28.11.06

às tantas, às tantas, vai ser sempre assim.
à espera do remate com todos os gestos inacabados ou imperfeitos,
sem saber ao certo se a perfeição não será apenas o teu corpo encharcado
neste cais a tresandar gaivotas sujas em espaços curtos de mar.
às tantas, só noutro tempo direi que te amo,
mas não como às estrelas do céu que não te pertencem.

(as estrelas guardo-as para outrém
à laia de um equilíbrio incomprensível
apenas mesurável na espera de uma noite sem luar)

o mar está no engate de todos os gestos vagarosos que acrescentam aos dias pedaços de mim,
marcas de sangue arrastando riscos nunca maiores dos que abandono nos passos
para te encontrar.
fugaz certeza esta que acrescento ao teu retrato
já que é tão grande o desejo, a paz de te tocar.

estar aqui desdobrando letras para perpetuar gestos ou um esgar,
ensalivando as palavras com um dia que fiz para ti
é um tempo impertubável:
o cais sob as docas graníticas que a ponte de ferro fundida sobrevoa
ao longo do ruído surdo dos automóveis
o resfolgar do aparo sobre o papel
enquanto o corpo balança ao vento suave que não vem do mar.

1 comentário:

blue disse...

escrito em 1985.

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