20.9.06

porque se ligam as memórias
a imagens como esteios de granito
em sucalcos no meu corpo encravadas,
as palavras como o seio de uma linha de água
onde o olhar é o murmúrio que descobre a alma,
apontamento cartográfico para o rumo
do que se julgara perdido?

(e que seres em mim escondidos
despertaram a roda das infantas
que nunca de linho branco se vestiram e de flores
a cabeça ornaram
apesar do desejo, da vontade e das mágoas?)

que palavras foram essas
que albarroaram o teu coração,
alinhando, serenas,
a desconstrução das ausências previsíveis
e dos desamores vividos?

e se, em cada amanhecer imerecido,
colhesse os seus votos como orvalho,
ser-me-ia permitido escutar ainda
as palavras que não se dizem?

4 comentários:

blue disse...

escrito em 1998, para um conjunto de textos que tinham como título "imagens para as palavras indizíveis"

Laura Ferreira disse...

muito bonito. e as imagens do teu blog transmitem paz.

Anónimo disse...

soube bem ouvir o teu belo poema com que
abres o teu blog....
as palavras ainda estão cá e renovam-se
sentidas,a cada momento sinceras...
nos amanheceres radiosos de luz,as sereias ouvem-nas
"as palavras indizíveis"!

blue disse...

é um texto com alguns anos. ainda bem que mantém sentido, ou melhor, ainda bem que pode ser sentido por outros que não apenas eu.

Arquivo do blogue

 
Creative Commons License
This work is licensed under a Creative Commons Attribution-Noncommercial-No Derivative Works 2.5 Portugal License.