18.8.06

(ilha deserta, verão de 2006)

ficar só, só.
das pontas dos pés ao rosto nú esticando os braços para o olhar infinito
rolando livre no banco de areia
até à água mais clara

até à transparência mais fugaz de um pensamento breve,

as risadas e a espuma branca surripiadas pelo vento,
o azul, o azul sem contorno,
o sal nos beijos e na pele
o camarão e a sardinha e os pimentos em azeite perfumados,
o cheiro a cardos fugindo das dunas inebriadas
por lírios brancos e inesperados na vegetação arisca:

a imensa pausa,
o silêncio intenso e raro.

como essa absoluta incerteza
da rota das ondas sobre a areia desenhada por vagas de conchas intactas
colhidas pelas mãos curiosas de uma criança feliz

e logo realinhadas pela vaga seguinte,
pelo plano de areia do vulto do rapaz

em contraluz.

como essa absoluta certeza de uma imperturbável
e íntegra felicidade.

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