bethan huws, fotografia de antonio alves
do lado de lá nuvens brancas
vapores suspensos na atmosfera que ocultam o azul do céu
poesia no dicionário e eu que procuro apenas
acordes diatónicos na garagem onde estaciona o mundo em Brooklyn
sou mais um corpo na rua seguindo os rapazes da banda
abrigo-me no tecto de folhagem esqueço-me de quem sou
um papel branco resguardo-me da infância
a preto-e-branco a sombra de uma ave sobre o vestido de veludo
asas de guipura elevam-me o pescoço
cresce curioso como o caule de uma herbácea
no qual as tuas mãos retêm a curva do colo lembras-te
dos limites do paul mapeados pelo movimento das barcaças de junco
na vitrina do museu lembras-te
do perfume do roseiral o teu silêncio lembra-me
a manufactura de uma cortina de tempo suspenso por palavras
há tanto tempo cantarolo
há tanto tempo
dizes agora mesmo em Brooklyn
ficamos sentados nos degraus da escada
cobre-nos na tarde um céu de trovoada
em Maio penso no acorde que me estremece
as bocas mordem-se por entre palavras aparentemente vãs
os rostos desenhados sem que o aparo se levante do papel
sem que o olhar interrompa
o desejo áspero e intenso.
10.5.09
Posted by blue at 12:35 da tarde
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3 comentários:
A tua poesia é por vezes muito intimista e eu confesso que nem sempre "entendo" tudo, mas não faz mal porque a considero bela na mesma, como um quadro ou uma música que nos tocam mesmo que não compreendamos alguns pormenores ...
Lindíssimo e exclusivo , Cláudia.
Tens a minha admiração, como sempre.
Um beijo
marisa
Quando se sente,a compreensão é dispensável; alimenta equívocos
Sim, apenas sentir e deixarmo-nos embalar pela música das palavras...
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