3.3.08

no sábado vi o documentário na televisão
o rosto dos soldados que interrogaram homens
no Iraque no Afeganistão
o ar crispado de quem não era suposto ser julgado
e passar uns tempos encarcerado
olhei o Mal o cinismo a ignorância a ignomínia as botas cardadas
a pele exposta sem outro camuflado que não o do medo
as discussões abstractas
infames dos generais dos secretários de estado
o gozo primário dos raciocínios do presidente os esgares
aprendi sobre a humanidade de dormir quatro horas ou apenas duas
preso pelos pulsos ser espancado até ao homicídio à exaustão
perguntei-me se dessa morte lenta já terão padecido em número suficiente
olho por olho dente por dente mortos para saciar os profetas do medo
as vozes do apocalise os senhores de todas as guerras
os que hesitaram na resposta à pergunta se seria legítimo
pontapear os testículos do filho de um homem
a quen se quer extorquir uma qualquer informação
será que já são tantos quantos os que arderam nas torres gémeas
tantos quantos os que morrem pelas ruas de Bagdad
tantos quantos os rockets sobre as praias de Israel e de Gaza

será que já chegam será que não
será que serei capaz de me levantar da náusea que me asfixia
lavar-me do nojo
será que serei capaz de descobrir a cara
de remover este véu de vergonha
será que não.

8 comentários:

anad disse...

Gostei muito. Vou voltar.
Anad

Scarlata disse...

A barbaridade humana nao tem limites... :§

Bandida disse...

não sabemos nada. nada.

margarete disse...

les uns et les autres... levei-o comigo.

beijinhos

Laura Ferreira disse...

lindo, Cláudia.
beijo

Poesia Portuguesa disse...

Enquanto existir a arrogância de quem se julga o dono do mundo...

Espero que não te importes que tenha levado "emprestado", um poema e uma imagem para o Poesia...

Algum inconveniente diz, que será de imediato apagado.

Um abraço e grata pela partilha ;))

Mar Arável disse...

A pele exposta

em riste

sem véu

contra a náusea

CCF disse...

Como é possível descrever tão bem esta agonia usando a poesia?!
~CC~

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