3.11.07

em dia de cemitérios
não chove sobre o anjo quedo na praça da bastilha
não chove no quarto que não é quarto
nem sequer na casa que não é casa
não chove no corpo que é vazio
não é possível que chova no nada.

não chove sobre as árvores do parque
nada humedece o saibro vermelho das alamedas
nada alimenta os líquenes que se desfazem em pó
não chove, hoje não chove
queimam-me a pele astros desamparados
que outra coisa não chove no nada.

7 comentários:

Scarlata disse...

Este poema é muito, muito bonito blue. ;)

Buona domenica.

hora tardia disse...

chovem pérolas.



em cada frase.



______________

mesmo debaixo do sol.



!

hfm disse...

Lendo em silêncio.

mnemosyne disse...

Uma sensibilidade à flor dos dedos...toca-se :)
Um beijo

Anónimo disse...

"Ficou deitado à escuta, a ouvir a água que gotejava nos bosques. Era a rocha-mãe à flor da terra. O frio e o silêncio. As cinzas do mundo falecido arrastadas para um lado e para outro no vazio pelos ventos gélidos e efémeros, portadores do tempo. Arrastadas para novos lugares e espalhadas pelo chão e de novo arrastadas. Tudo desligado dos respectivos alicerces, tudo a pairar no ar cinzento, sem qualquer ponto de apoio. Suspenso por uma aragem, trémula e fugaz. Se ao menos o meu coração fosse de pedra."
Cormac McCarthy - A Estrada (Relógio d'Água, 2007)

Licínia Quitério disse...

o desamparo. o nada.
um belo poema.

beijo.

Letras de Babel disse...

que teimosia a nossa, de querermos sempre alguma coisa...


[e o nada ali tão calmo...]

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