1.10.07


(c) rosi

há uma casa de janelas fechadas
um quintal de cascalho
roseiras, hortênsias, hibiscos e orquídeas selvagens
caem frutos putrefactos
numa noite de outono.

posso sempre sair por essa porta
diz o homem
posso sempre desejar-te como um fragmento
ao ver-te passar por entre a revoada de folhas de choupo que o vento levanta
imaginar-te aí como um fotão posso sempre desejar-te
riscada sobre os papéis onde escrevo, impaciente
posso sempre desejar-te repito
posso sentir a tua pele na minha boca, luminescente
a pele dos teus seios, da curva dos antebraços
antes do lugar que articula o meu desejo
o cotovelo onde te agarro quando me desconheço

posso
sempre
desejar-te muito


a mulher cruza os braços
entra na casa de
fôlego perdido, as janelas fechadas.
caem frutos putrefactos
numa noite de outono.

18 comentários:

Mar Arável disse...

Belo texto

em qualquer estação

Anónimo disse...

outono-me nas tuas palavras e nas do mar arável.

_________________


todas as estações são excelentes para Te ler.


beijo. Blue.

y.

Gi disse...

Um dia chegará em que as janelas se abrem, as árvores se cobrem de flores e a mulher dará fruto.

Bela o teu conto, bela a tua escrita

Umm beijo

Natália Nunes disse...

Sensacional, Cláudia!

Me arrebatou!

Ficas uns dias sem escrever e apareces com essa pérola!

Bjos!

Scarlata disse...

Maravilhoso! Com direito copia na caixa! ;)

deep disse...

saudade de um verão maduro sulcando os braços do outono

Susana Miguel disse...

lindo, blue. gostei muito, muito do padrão da colcha sobre a cama e daquele rosto que me olha fixamente. já tinha saudades
de ler-te. é sempre bom vir até aqui.

nestes dias de Outono,
abraços bons.

isabel mendes ferreira disse...

há uma casa de portas bem abertas.


por onde Tu deixas entrar A IMAGEM.


belíssima....


que esvoaça.



bjo.

hfm disse...

quase um diálogo interrompido mas onde há a janela. Belo!

Anónimo disse...

lindo lindo

Anónimo disse...

gosto, muito, como sempre. nunca é demais dizê-lo.
bj
marisa

Bandida disse...

podes em qualquer instante desatar os dedos em cores de pincel e desenhar desejos como se fossem barcos. podes. tu podes sempre.



beijo B.


B.

Mateso disse...

O corpo percorre
os espaço aberto
na amplitude de um desejo
ou
apenas de um começo...
para o depois.
Belo.

Isabel Victor disse...

Desejável ...

_____
a apetecer voltar

i*,

isabel disse...

Podes. Podes sempre deixar sair as palavras. E os traços.

Iluminam qualquer noite de outono.

Carlos Ramos disse...

Outonalmente cinematográfico, como um vinho que pede para ser bebido, são assim as tuas palavras.

Laura Ferreira disse...

gosto do tecido do texto e do tecido do desenho. muito.

JPN disse...

fui na cadência, no ritmo, no poema. delicioso!

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