9.4.07


(lápis sobre papel vegetal, 1983)

duas crianças desenham a chávena assombrada
às voltas com o tinir das colheres de prata e dos lagartos de manteiga e limão

enquanto o samovar de prata do alto da sua imponência
liberta os vapores perfumados do chá açoreano
devagar e silenciosa uma outra criança segue a galhofa das velhas amigas
desenrugadas por contagiante espalhafato
os pés bem calçados a relembrar os passos do charleston
matraqueando o soalho o foxtrot
enquanto a grafonola distraída faz soar os pesados discos negros
as modinhas os choros os blues despachados por encomenda postal
atravessados que ficaram oceanos de saudade
as maçãs do rosto iluminadas
sorrisos como flores de carmim
as blusas de seda com laçadas abertas sobre rendas
cheira a flor de laranjeira a rosmaninho a pó-de-arroz a alecrim
é primavera
o sol o céu a luz
a tua pele cheiram tão bem

duas crianças desenham a chávena assombrada
na sala do palácio Vila Flor

à sombra do meu olhar

no resguardo do meu amor


© antónio olaio

5 comentários:

Anónimo disse...

.à sombra do meu olhar
.................








boa noite Blue...


o texto e o desenho...





na sombra. à sombra do belo.



imf

Cometa 2000 disse...

"duas crianças desenham a chávena assombrada"

muito bonito o texto. os outros também. :-)

Scarlata disse...

Que bonito, muito onírico.

Esta e-molleskin é uma descoberta maravilhosa.

;-)

bruno disse...

muito bom, este dia
blue. tudo. belíssimo
o texto, muito mesmo
o modelo e a cópia
respectivamente, o modelo
acima da cópia, entendes?
e depois este afã crescente
com que olho para os teus
lápis.

um abraço.

Anónimo disse...

Vim a correr para ler. Um mundo de recordações... Adorei

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