8.1.07

com o verão,
o teu olhar afundou-se no negativo das imagens que já não lembro,
deixando-me só perante os sonhos ausentes da tua presença.
o vazio é a palavra que te consigo atribuir
por entre a curva que o meu corpo desenha
buscando um só gesto que valesse a pena cativar.

e depois das chuvas
vieram finalmente os dias de um outono forte.
foi a vez de os meus olhos se cobrirem de outras águas
precipitadas desses outros dias de há um tempo atrás.
como se esses dias fossem todos hoje,
os cheiros regressaram na revoada das folhas amarelecidas dos plátanos,
ébrios de névoas frescas
pelo ressoar dos rios e da cor vermelha das terras encharcadas.
por tais vestígios encantada,
a minha alma debruça-se nos rastos das tuas palavras,
transbordando pelas noites mais longas de medo
os equívocos destes cenários que me obrigam a recordar-te.
desses obscuros rasgos de uma memória subconsciente
que alguns sinais conseguem despertar,
fica tão somente o odor do reencontro
com tudo o que apenas se foi capaz de sonhar.

revejo-me então neste corpo pela morte embrutecido,
como se por tal destino
de um só olhar me embriagasse rudemente.
olhar capturado na claridade fotográfica de um relento,
cravado na pele transparente:

presságio da dor ainda inexistente.

1 comentário:

blue disse...

este é a versão integral do texto inserido no desenho do próximo post. é mais um do lote de 1992.

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