5.12.06

vai o regato cheio por luz de ouro onde se afunda a tarde,
varrem-se os desgostos e as ausências destemperadas

pelas encostas azuladas da serra adormecida
e, sobre a curva do penedio sibilante,
o corpo de ventos bravios
ensurdece os ruídos longínquos da cidade

vão as lamas pardacentas rego abaixo
cama de galhos secos, partidos
acendem-se poeiras como fogos-fátuos
sob a luz filtrada no fim do dia

(e ao anoitecer dizes baixinho)

ama-me de um amor indizível,
de uma luminosidade inesquecível
de um tempo impossível,
tu que no perfil ensombrado destas horas finais
te estendeste sobre o musgo verde e macio
para seres minha, para seres minha.

e quando a luz tomar as vidraças cativas lá pelo burgo
ao amanhecer
deixa-me, a mim que tinha as mãos vazias, embalar-nos na luz diligente
que nos aponta o regresso à casa que acabamos de reconhecer.

2 comentários:

Anónimo disse...

Escrito em 1935?

blue disse...

:)

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