28.12.06

soam guizos e campaínhas na sala desbotada
e os garotos riem da solicitude do rapaz que ampara o trajecto
cego da professora de música
afastando a massa de cabelos que afronta a face corada

enlevo táctil que varre sombras e trevas
páginas de solfejo soletrado beijo a beijo,
sussurros, galhofas,
vozes claras
alinhadas como vestidos de algodão floridos

crostas, cicatrizes
e nódoas negras como coroas de reis enfeitando magros joelhos


palmas, síncopes
o feltro vermelho do piano cativo pela luz escusa da tarde
percutindo o soalho com o eco das pautas arduamente ensaiadas

as pequenas canções mimadas.

e, no dia da festa, cabelos presos por fita de veludo
calções vincados, camisas brancas, vozes afinadas
lá no circulo de arte e recreio teimosamente encostado à velha praça

desfez-se o piano, vendeu-se a velha casa.

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