9.10.06

o meu corpo amarfanhou-se nas palavras que chegaram em papéis pôdres de ti.

enviados como folhas perdidas dos teus dias,
descobertos às cores quentes desses muros onde violentamente espojaste o teu corpo
nessa cidade que da selva se afunda no mar,
afogaram-me na saudade obscura de desejos esquecidos.
deles arranquei um desespero
que fez de mim peça inerte da tua vontade
e, como tu desse outro lugar desnudado buscaste os meus olhos
rasgando um céu sem sóis nem planetas brancos onde repousar o olhar,
eu rompi becos e esquinas, por entre velhas pilastras de granito porco,
na muda esperança de nos teus braços
a vida que um dia me arrancaste poder reencontrar.

aqui as palmeiras não sabem a chuva tropical:
erguem-se descompassadas em jardins arruinados.
a cacimba é despida da claridade que tranborda das tuas palavras
ornadas de um luto que já não é o meu, desesperadas,
e não sei que faça para delas me afastar.

1 comentário:

blue disse...

iniciado em 1984 (ou 85), depois de uma emotiva conferência sobre a experiência de um grupo de arquitectos da escola do porto como professores na universiade em luanda.
a conferência acompanhava uma exposição com desenhos lindíssimos e alguma correspondência pessoal, que foram o ponto de partida para esta escrita. terminada em 1992, faz parte do conjunto de textos referidos no post anterior.

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