23.11.09



asahi pentax.


17.11.09

domar o incómodo reajustar a maquilhagem
o aperto de circunstância
nas relações contratuais ser o próximo assalariado sê-lo com
diligência transparência ensejo
assegurar o cumprimento da missão
reanimar activos moribundos ah um amor moderno é esse assim
do tipo que tem uma cozinha ikea
uma rede social em cada tecla
tarefas executadas com eficácia e presteza
as crianças no colégio os leasings garantidos
as compras do mês asseguradas

ah um amor moderno o meu
distrai-se coitado agita-se crédulo
contradiz-se pensa que vestir no dia da vernissage
como lhe ficaria bem um par de sapatos vermelhos
ser Dorothy no tabuado da galeria
um bolso de recensões literárias

ah um amor moderno cheio de culpa contemporânea.

16.11.09



(caneta sobre papel, novembro 2009)

as mulheres que, em breve, deixarei de poder desenhar, no comboio.

10.11.09


© carlos júlio

2.11.09



O viajante


O viajante é um projecto multidisciplinar, centrado no cruzamento de diversas leituras fotográficas de um romance de Italo Calvino, Se Numa Noite de Inverno Um Viajante. Nele, Calvino propõe construir um romance a partir de diferentes começos, fragmentos narrativos que conduzem o leitor a lugares distintos, construindo tipologias que organiza segundo categorias que funcionam numa lógica simbólica e interpretativa que vai da névoa, da atmosfera ao apocalipse.

A viagem é um tema eminentemente fotográfico e o fotógrafo tem sido, desde o início, um viajante, um observador e uma testemunha. Alguém que se desloca e ao deslocar-se altera o seu ponto de vista. As fotografias resultantes são fragmentos, vistas parciais, possibilidades de ponto de vista que nos dizem do lugar do fotógrafo e do que tinha em frente; não nos dizem nada. Mas são todas potenciais narrativos e por isso, quando se cruzam com o espectador, dizem tudo. Esta ambiguidade, que a natureza da fotografia lhe empresta, torna-a num instrumento privilegiado para pensar a nossa relação com o mundo, e construir a nossa própria narrativa. Tal como a pintura, a fotografia é una cosa mentale.

O que se apresenta é uma rede organizada a partir de um conjunto de pontos de vista de diferentes observadores-leitores-fotógrafos construídos a partir das possibilidades narrativas propostas por Calvino e esta rede é tecida a partir de leituras deste núcleo inicial envolvendo diversas práticas artísticas da palavra à escrita, do som à performance, da pintura ao vídeo.

O viajante é uma experiência colectiva proposta aos sentidos do leitor-espectador. Não por acaso, o romance começa numa estação de caminho de ferro…

Francisco Feio

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