18.11.06

o homem ficou só.
trazia as mãos despidas de cinzas. vazias.
com as sombras do silêncio iníquo que tomara conta da sua vida
compôs palavras ao anoitecer.

a mulher, tão longe, sentiu-as
cravadas na alma, ofegantes
flores apavoradas, belas
porém fugazes. circunstanciais
como o inverno longo que os aguarda.


a mulher não se levantou para as colher
de um sopro cálido.

antes fechou os olhos
cerrou o corpo, o olhar.
o homem ficou só, de mãos vazias.

dos seus lábios desassombrados
palavras continuam a desenhar ficções
metáforas
poemas
cantos

águas profundas
onde boiam belas plantas apodrecidas
insalubres
viciadas
para sempre perdidas.

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