30.3.08

28.3.08

hoje, para Z.

26.3.08




O primeiro número da revista
literária Criatura já está impresso.


Participam no primeiro número os seguintes autores:

Ana Aleixo Lopes
Ana M. P. Antunes
António Ramos Pereira
Beatriz Hierro Lopes
Cláudia Santos Silva
David Teles Pereira
Diogo Vaz Pinto
José Carlos Barros
Maria Sousa
Marta Caldeira
Marta Chaves
Nuno Araújo
Rita Branco Jardim
Sara F. Costa
Susana Almeida

25.3.08


© zp


nem a sombra nem o vento me servem de anteparo

quando chego à paliçada que te encerra

e cais como quem apenas respira

sobre a nuca sobre a curva do ombro

sobre a areia branca que cega e enfarta

sem que saibas de maçaneta portada ou vidraça

sem que te reconheças na membrana fotográfica que o dia imprime

e és contraluz vagalume corpo nocturno.
..

17.3.08



(caneta de micropigmento sobre papel, 2007)

12.3.08

chegas trazendo a morte como uma criança pela mão
atravessas os juncos enlameados pisas as gramíneas
arrumas no bolso o coração abalado sacodes o vestido branco de lã
abres o caderno vermelho e escreves o teu nome
escreves
pétala pedúnculo gineceu.
a morte ficou parada com os seus grandes olhos fitos
nas poeiras cansadas do Levante
escuta palavras omissas vozes falsas
no peito traz a planta vascular com sementes de cal
a braçada de magnólias de onde colhes o meu nome

de manhã caiem sombras, muito devagar
disse. caiem com as pétalas negras das camélias
definham com o perfume das tangerinas.


© salamandrine aka sandra ferrás

.
silêncio.

10.3.08

o que lerei esta noite para saber da tua voz
contos pântanos brisas comboios desertos
um arrepio uma funda um assobio
o que lerei que palavras soletrarei como reter o tempo
sequóias desfiladeiros fragas
lágrimas um rubor vagas
que mãos tomarão as faces os cabelos
que bocas cegas se tactearão
a cintura o torso as omoplatas os cotovelos
os pulsos abertos o sexo as nádegas

o que lerei esta noite
um arrepio uma funda um assobio.


.

7.3.08


© maria paes



pareces mesmo tu, aí, como te imagino. quase tronco, galho, folhagem.
o corpo ancorado de manhã
no flanco de um fotograma inesperado

l’air d’une chanson perdue.

4.3.08


(caneta sobre papel, detalhe)

3.3.08

no sábado vi o documentário na televisão
o rosto dos soldados que interrogaram homens
no Iraque no Afeganistão
o ar crispado de quem não era suposto ser julgado
e passar uns tempos encarcerado
olhei o Mal o cinismo a ignorância a ignomínia as botas cardadas
a pele exposta sem outro camuflado que não o do medo
as discussões abstractas
infames dos generais dos secretários de estado
o gozo primário dos raciocínios do presidente os esgares
aprendi sobre a humanidade de dormir quatro horas ou apenas duas
preso pelos pulsos ser espancado até ao homicídio à exaustão
perguntei-me se dessa morte lenta já terão padecido em número suficiente
olho por olho dente por dente mortos para saciar os profetas do medo
as vozes do apocalise os senhores de todas as guerras
os que hesitaram na resposta à pergunta se seria legítimo
pontapear os testículos do filho de um homem
a quen se quer extorquir uma qualquer informação
será que já são tantos quantos os que arderam nas torres gémeas
tantos quantos os que morrem pelas ruas de Bagdad
tantos quantos os rockets sobre as praias de Israel e de Gaza

será que já chegam será que não
será que serei capaz de me levantar da náusea que me asfixia
lavar-me do nojo
será que serei capaz de descobrir a cara
de remover este véu de vergonha
será que não.

2.3.08


(caneta sobre papel)

jean cocteau

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